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A Alma Branca

Hoje é o dia Mundial da Paz e o dia da Fraternidade Universal. Nada mais significativo para o início de mais um ano, seguindo a tradição do calendário gregoriano. É comum, na passagem de ano, que as pessoas se vistam com roupas brancas. Temos dois grandes eixos de reflexão, portanto. Por um lado, o primeiro dia do ano conclama para valores éticos elevados, a paz e a fraternidade. Por outro, a roupa branca simboliza especialmente um desses valores, a paz. O ideal e o concreto, o valor e a prática. Nem sempre atrelados, intimamente ligados, mas deveras imprescindivelmente conectados.

Não estamos começando nada novo. Há uma continuidade que se renova. A dinâmica histórica é por demais aberta e flexível. A renovação só poderá vir na medida em que, de fato, nos colocarmos com disposição de espírito para vivenciar, na prática, não apenas externamente, como as roupas brancas sugerem, os valores éticos da paz e da fraternidade. Para tanto é necessário muito esforço. O despojamento, a humildade, a lisura, a retidão de caráter, a preocupação com o entorno, seja social ou ambientalmente, são expressões desse esforço. E nas nossas peregrinações pela vida encontramos parceiros os mais diversos, amigos de caminhada, que reconhecem em nós e em si mesmos, porque são nossos espelhos, a decência como pressuposto da renovação vital. Nesses companheiros nos inspiramos. Um deles me ligou esta semana, deixando uma mensagem. Um grande arquiteto, um grande homem público, um grande benfeitor da cidade.

O mundo precisa de pessoas assim, abnegadas, dispostas a lutar sempre, para que a novidade possível, o inédito viável de Paulo Freire, seja sempre uma referência primeira. Faz-se necessário que a alma, conceito derivado do hebraico “nephesh”, traduzido por “vida”, ou no latim “animu”, aquilo que anima, esteja ela própria branca, como a roupa que vestimos. Ir além da roupa significa aprimorar a brancura interior, procurar pigmentar a alma pela alvidez, um grau maior de brancura interior, que nos permita fortalecer a prática cotidiana da luta pela brancura do mundo.

Esse mundo que anda acinzentado, pela concupiscência, a ganância por bens materiais, que impele uma economia sem escrúpulos e sem ética, para o enjeitamento da decência, da compaixão para com os que sofrem pela fome e a miséria. Não há vestimentas brancas que resolvam essa situação. Mas almas brancas talvez. Não sejamos ingênuos diante da contraditória condição humana, tão cheia de possibilidades éticas e ao mesmo tempo tão decadente eticamente. Mas a esperança existe, de que seja mos mais gente do que realmente somos.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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