Home / Destaque / A Boa Nova

A Boa Nova

A boa nova se revigora e sua concretização está cada vez mais evidente. São situações do cotidiano, mudanças crescentes, para o bem do aprimoramento humano, que podem ser constatadas com o olhar humilde, o coração aberto. Ela nos livra de nossas mazelas existenciais, das mágoas, dos desentendimentos. Abre nosso coração para o perdão e para a compreensão. Afinal, quem somos nós diante da infinita magnificência da bondade universal? Nossa contraditória condição humana nos impele, a partir de nossos desvios espirituais, a rever nosso comportamento, nossos julgamentos, nossas práticas.

Somos pequenos grãos de areia no deserto do universo, compostos por fragmentos que se liquefazem como a poeira que a revoada decanta no ar, para pousar posteriormente em solo fértil. A vida, uma passagem física e terrenal, está para além do aqui mesmo e se perpetua nas partículas de Deus, na memória, nos melhores esforços que fazemos durante nossa caminhada.

O convite está feito, para o mergulho na divindade, no âmago de nós mesmos, pois como afirma o evangelista, “vós sois deuses” (João 10: 34). Há esperanças de que essa nossa condição espiritual nos livre dos limites que o psiquismo nos interpõe. Esse mergulho nos impele a sair de nós mesmos, de nossa habitual mesquinharia pelo desejo de reconhecimento, para abrir os braços em direção ao outro. Há uma paz de espírito que é e só pode ser concretizada coletivamente, porque a vida espiritual está para além dos egoísmos.

Abrir mão do tudo saber, do tudo imaginar poder, do tudo querer controlar, de em tudo querer buscar um resultado pessoal ou a realização de um projeto. Convite que se estende a todos e todas¸ para que se dirijam ao desapego, esperancem a transformação do mundo, das realidades injustas, contra a justificação de todos os meios ilícitos para realização de supostos interesses coletivos, sociais ou políticos.

A bondade universal não é apenas uma reserva moral, mas fonte inesgotável de consciência, que nos interpela individual e coletivamente. Há olhos voltados para os filhos dessa chama original, todos e todas nós. Existem expectativas no universo que nos rodeiam, esperando que possamos ser além de nós mesmos e apesar disso. Não podemos ceder às nossas fraquezas, não podemos aceitar a submissão perversa aos desatinos de nossa própria conduta.

Escolher sobrepujar nossa triste condição humana é aceitar o convite que a bondade universal nos faz: seguir a estrela da boa nova. Ela guia a humanidade cosmicamente faz séculos, milênios, desde a eternidade, quando já estava gerada e gerava. Ilumina nossos passos e nos conduz, mesmo com nossas interferências arbitrárias em nosso potencial transcendente, a fraternidade, o respeito mútuo, a superação dos dilemas sociais e das injustiças. Que essa luz poderosa continue a irradiar seus fachos sobre nós.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

Check Also

QUE CIDADE QUEREMOS?

  Uma cidade nunca é o resultado de uma marca específica. Terra da Uva? Terra …