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A História da Cidade

Observei o movimento com atenção e pensei: qual o significado dos eventos alusivos ao aniversário da cidade, como atividades culturais e esportivas, matérias na imprensa sobre o nosso processo histórico? Afinal de contas, o que é a história? Várias falas, de urbanistas, historiógrafos, engenheiros, empreendedores, agentes públicos, tentaram uma resposta. Sem desmerecer as análises e depoimentos desses jundiaienses, todas muito importantes, uma questão que sempre me moveu como historiador surgiu da boca do prefeito.

A grande historiadora Déa Fenelon dizia em um dos seus importantes textos, que a história é uma tentativa de construir um ponto de vista crítico sobre o presente, para ressignificar o passado e imaginar o futuro que desejamos. Sob esta ótica, o factual é apenas uma parte menor do que realmente interessa no trabalho de releitura das experiências vividas ao longo do tempo em uma cidade, sobretudo porque ajuda a negligenciar a diversidade de identidades culturais que deram forma ao que ela é.

Como uma ciência crítica, a história não se restringe a uma mera descrição do passado. O passado é sempre pensado a partir do lugar social de quem o analisa. Fontes históricas são apenas bases nas quais nos debruçamos, não necessariamente para pensar o passado. Antigamente, havia – e ainda acredito que existam – professores que diziam que estudar o passado é importante para “entender” o presente. Creio que não. Pensar o presente e o futuro com novos olhares sobre o passado, eis o desafio. Em que espaço isso se dará?

O que é pensar a cidade? Do meu ponto de vista – e daí a importância do trabalho dos historiadores – é imaginar soluções práticas para questões atuais que nos atormentam. Preservar fontes materiais e documentais sim, mas antes de tudo pensar as relações e construir uma identidade pública. Uma cidade que não acolhe, que não respeita diferenças, que preserva traços elitistas de controle social – político e dos bens públicos e culturais -, está à margem da própria história. A história é, portanto, uma dinâmica transformadora, que comporta ações em favor da civilidade e do bem de todos.

Mobilidade urbana, desenvolvimento econômico e social, avanços tecnológicos e ambientais, não podem ser temas descolados dessa totalidade. Se não houver debates públicos que amplifiquem, como disse o prefeito, a necessidade de relações humanas mais fraternas e solidárias, de nada adiantam “avanços” sem reflexão, pois só geram mais dificuldades. Neste aspecto a escola é o único lugar, como diz Yves de La Taille, que funciona como uma usina de sentidos, onde podemos imaginar motivos para viver individual e coletivamente.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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