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A Maioridade Mental

Como filósofo eu não poderia deixar de participar desse significativo movimento em favor da ampliação da maioridade mental. Não é possível que tantas pessoas sejam vitimadas por essa violência endêmica que assola nossa sociedade, a ignorância. Precisamos defender penas mais severas contra os algozes da racionalidade, que ficam sustentando um modelo de escola desumano, onde grassa a intolerância, o preconceito, a vileza de espírito, os apelos à competitividade e à eficiência. Como ficar imóveis diante dos interditos à racionalidade, que circulam pela seiva do sistema circulatório de nosso tecido social? Como não se manifestar diante do sofrimento das vitimas da falta de razão, sejam os que cometem delitos, quanto os que perecem por suas ações?

Temos de exigir que essa onda de imbecilização, esse empobrecimento moral que nos atordoa, frutos de uma racionalidade instrumental que aprisiona e provoca o domínio, seja de vez deitada ao nível da terra. Haveremos de reagir contra esses estatutos e códigos de racionalidade tão arcaicos, descontextualizados e que impetram a insolência cognitiva entre nós. Urge construirmos outro modelo de entendimento mútuo, comunicativo, em que o diálogo de alto nível provoque consensos em torno do que é ético e justo. Caso contrário, onde estarão nossas crianças daqui a algumas décadas? O Centro Brasileiro de estudos Latino-americanos, com base no Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, indica que cresceu 346% o número de homicídios contra jovens no Brasil, nos últimos 30 anos. Um dado alarmante, resultante – tenho certeza absoluta – de nossa insensibilidade perceptiva. Devemos desvelar, descortinar o véu de nossa pobreza mental.

Como dizia Paulo Freire, não é possível dissociar a decência da boniteza. Assumamos nossa feiura e fraudulenta capacidade racional, quando invertemos causas e consequências de problemas complexos, tentando resolvê-los com jargões inconfessavelmente pobres intelectualmente. Justificamos a solução irracional através do antigo padrão normativo do olho por olho, dente por dente.

É sem precedentes na história desse país o descaso com a racionalidade, que vem sendo alimentado pelas supostas bases teóricas de um tal modelo neoliberal, que se arroga a senhor das soluções para os problemas que ele próprio inventou, entre eles a nossa indigestão ao pensar. Mas fico feliz em perceber a existência de tantas assinaturas nesse manifesto nacional em favor da elevação de nossa compreensão sobre o mundo social. E assino embaixo.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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