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A Solução é Pensar Bem

Dizem que os filósofos são pessoas desligadas da realidade, que vivem no mundo da lua. Há uma lenda que afirma que Tales, o primeiro filósofo, quase teria caído num buraco. Ao ver a situação, um discípulo o teria interpelado, dizendo que ele não poderia conhecer as estrelas porque não conseguia enxergar um palmo à sua frente. Esta história, contada num delicioso livrinho de Marilena Chauí, se desdobra em explicações da filósofa brasileira comentando o desprezo pela filosofia por parte de muitos, que supõem que ela não possui finalidade prática.

Para demonstrar que não, em outra parte do livro, aparece outra história sobre Tales. Desta feita, se diz que com seus conhecimentos astronômicos e filosóficos conseguiu prever uma grande colheita de azeitonas. Investiu na compra de áreas durante o inverno. Na época da colheita, alugou todas elas e lucrou muito com a iniciativa.

Essa pequena alegoria nos remete ao objeto deste texto, que é demonstrar que aqueles que pensam melhor, se saem melhor. Claro, não podemos creditar tudo à razão, mas, parodiando o título de um livro de Roberto Freire, poderíamos dizer: “Sem pensar não há solução”. Ou então, “Sem pensar bem não há solução”. Muitas de nossas ações individuais ou coletivas são fruto dessa “burrice” exacerbada que é o não pensar. Colocamo-nos diante do ridículo por conta do nosso pragmatismo do tudo querer resolver. Essa vontade em dar a última palavra em tudo também é ridícula, porque a última palavra simplesmente não existe.

Tem mais. Pensar é uma atividade coletiva. Ninguém pensa melhor do que ninguém. Pensamos sempre a partir e junto a um outro que nos interpela. A capacidade de pensar bem nada tem que ver com erudição e conhecimento acadêmico, formal. Ela está muito mais relacionada à observação, à boa argumentação, à busca de fundamentação, aquela capacidade de dar boas razões para os fenômenos que queremos interpretar, como o sentido da vida, por exemplo.

As grandes questões relacionadas ao convívio humano, como a dificuldade em tolerar, a dificuldade em aceitar o outro, a dificuldade em viver com o diferente, relacionam-se ao mau uso da razão, além de boa dose de narcisismo, claro. Há pessoas que não percebem suas ações como situações impeditivas ao bem estar do outro. Alexandre Magno, em sua arrogância e imaginando saber cuidar dos outros, teria encontrado Diógenes certa feita e perguntado ao cínico filósofo o que poderia fazer por ele, ao que Diógenes responde, em palavras atuais: “saia da frente do meu sol, por favor”. Ao querer proporcionar o que imaginamos ser o melhor para as pessoas, por vezes roubamos sua riqueza.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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