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Esperança Criadora

Não, a vida não é feita apenas de dissabores. Eles existem, não devem ser negados. Sem incorrer num discurso piegas, sem base científica, há uma sabedoria milenar, provinda de diversas fontes culturais, que nos indica que há motivos para acreditar e esperançar. Não uma esperança paralisadora, como uma espera descomprometida. As sementes do bem sempre vingam quando há solo fértil.

Aparecem pela natureza, como elementos espirituais que circulam sem que sejam percebidos. Atordoados pela rotina, a correria do dia a dia, nos perdemos em devaneios de realização que suprimem a simplicidade do coração. Essa simplicidade impede que sejamos tomados pelo medo. Aparece também pelo gesto solidário, pela confiança, pela fé comum que nutrimos com nossos pares.

Haveria muitos motivos para apenas nos deixarmos conduzir pelo discurso da desesperança. Não podemos negar que, por vezes, somos acometidos pela tristeza, pelo desanimo, pelo descrédito na pessoa humana. No entanto, enquanto há vida, as possibilidades existem. Um dos maiores desafios é nos desapegarmos, em todos os sentidos. Não que devamos abrir mão de princípios, mas o desapego ideológico em grande medida nos libertaria, para vermos mais largo. Também é fato que o desapego material, pelo controle, pelo domínio de situações, nos aprisiona.

Posicionar-se em favor daquilo que é bom e justo não pode ser, contraditoriamente, apenas um discurso. Quantos de nós o reproduzimos, mas no dia a dia queremos ter razão sempre, absorvidos pelo oposto do que dizemos defender. Como é duro crescer humanamente!

A ingenuidade é sempre um risco. Temos que calcular a dimensão e os resultados de nossas ações, porque nem sempre elas surtirão efeito. Esperar que todas as pessoas correspondam de forma unilateral ao que é aceitável socialmente como justo e correto, parece realmente irracional.

Contudo, existem inúmeros parceiros de caminhada que nos proporcionam o alento de uma esperança que pode se tornar criadora. Não entregar os pontos e acreditar, seja por meio de uma razão sensível ou pela crença no inefável, que há motivos para amar a vida, desejar que ela seja melhor enquanto dura, para nós e para todas as demais pessoas. Trabalhar esperançosamente para que vingue o potencial humano, a despeito de tantas limitações.

Tolerar o que é possível e mudar o que não é aceitável. Um exercício diário que cabe a cada um de nós praticarmos com humildade. Se observarmos bem, há luz nos olhos de muitas pessoas que nos circundam. Elas nos interpelam e sinalizam que talvez também exista nos nossos. Por que não acreditar na soma dessas luzes, para que elas iluminem o mundo com amor e esperança?

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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