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Estar Secretário de Educação

Por decisão do prefeito Pedro Bigardi, desde o dia 08 de abril de 2015 estou como secretário municipal de educação de Jundiaí. Na ocasião da nomeação eu havia prometido escrever um texto a respeito e estava aguardando o momento certo. Creio que chegou.

O que me move não é a vaidade pessoal, mas o desejo de fazer um relato de uma trajetória política, não apenas minha, mas de um grupo de pessoas, que se constituiu em 1995, sob a liderança do ex-vereador Antonio Galdino. Nos reuníamos em sua casa para discutir uma estratégia inédita para a cidade de Jundiaí, lançar a candidatura de um engenheiro novo, de 35 anos de idade, como candidato a prefeito. O grupo era formado por diversas pessoas e eu, que contava com 33 anos na época, participei com entusiasmo.

Fui militante, desde 1976, da pastoral da juventude e a partir de 1982, atuei no movimento cultural, como músico. Mas foi a partir de 1990 que minha participação sindical me impulsionou para a militância política, em grande medida pelas influências da Teologia da Libertação e do pensamento de Paulo Freire, que já me constituíam como um educador de base. Foram 10 anos de participação no movimento sindical de professores, que me levaram a duas candidaturas consecutivas a vereador, em 1996 e 2000, tendo nesta última me classificado entre os primeiros suplentes do partido.

Em 2015 completei exatos 36 anos de trabalho, a maior parte deles dedicados à educação. Fui bancário e trabalhei no setor administrativo de uma grande empresa do ramo metalúrgico, antes de me tornar educador. Venho de uma família simples. Meu pai era ferroviário e minha mãe foi tecelã na empresa onde hoje fica o Complexo Educacional Argos, sede da secretaria de educação, espaço sob minha responsabilidade. Parece ser um revés da história.

Não tenho mais ambições profissionais, porque na carreira docente já fiz tudo o que desejava. Fui professor de educação básica, gestor de escola e nos últimos 20 anos venho atuando como professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação. Fui pesquisador, publiquei livros em várias áreas e esta trajetória toda, por si só, já me preenche como pessoa. Estar secretário não é nível de carreira, mas uma função temporária que acolho de bom grado, em que pesem todas as minhas limitações pessoais e profissionais. Trata-se de um serviço à comunidade. Implica responsabilidades enormes, especialmente com as 32 mil crianças de nossa rede municipal e suas famílias e com a metade dos servidores públicos da prefeitura de Jundiaí. Há ônus e bônus.

Portanto, nada me move com interesses políticos ou profissionais, porque minhas conquistas já estão consolidadas. Na verdade, fico mesmo feliz em perceber que um projeto iniciado em 1995 tenha se concretizado e que eu continue fazendo parte dele. Na minha geração estão nomes da militância popular que me completam na amizade e na esperança de um mundo melhor, entre eles Edilson Graciolli, Luiz Raniero, Rinaldo Varussa, Eduardo Pereira, Nereu Veiga e tantos outros que vieram da militância em pastorais católicas. Alguns deles participam do projeto de governo da cidade de Jundiaí, outros estão torcendo para que continue.

Nos últimos anos a gestão de Pedro Bigardi tem promovido mudanças significativas na vida da cidade, sem desconsiderar o que já fora feito antes. Dentre estas mudanças estão desde grandes projetos, alguns em execução e outros por realizar, nas áreas de infraestrutura, bem como uma nova forma de relacionamento com a cidade. Quem conhece o nosso prefeito sabe de sua propensão para o diálogo, não abrindo mão de conversar com todas as pessoas e segmentos da sociedade. Trata-se de uma pessoa honrada e sem mancha pessoal ou política.

Especificamente, na secretaria de educação, várias ações foram realizadas e outras estão em andamento, promovendo aprimoramentos e avanços para os servidores, na estrutura física e nas políticas públicas de educação. Destacam-se construção de três novas escolas, a implantação da lei do 1/3 extraclasse, o investimento em formação, a gratificação de títulos para educadores, a implantação dos uniformes escolares, dentre outras ações.

A partir de abril, nossa equipe se voltou para aprofundar o debate sobre o campo pedagógico e foram tomadas algumas medidas como a criação da Diretoria de Educação Inclusiva, de seis Núcleos Educacionais específicos, a criação de duas novas escolas de tempo integral e um planejamento das ações para 2016 que incluirá a discussão com a rede das diretrizes pedagógicas e curriculares, a instituição do Conselho Municipal de Educação Deliberativo e o Fórum Municipal de Educação para pensar propostas de aprimoramento das políticas públicas de educação em  suas diferentes dimensões.

Portanto, para finalizar, sinto-me lisonjeado em participar deste processo e ajudar o prefeito a dar forma ao slogan de seu governo. Como humanista convicto, tendo a perceber a política subordinada ao interesse das pessoas. Tudo o mais que se segue em processos de gestão, como conflitos, divergências, impasses, fazem parte do jogo democrático. Manter os princípios, no entanto, é ponto pacífico. Educação é investimento de longo prazo, não apenas financeiro, mas humano e cultural.

Pensar educação é pensar não apenas o desenvolvimento econômico, mas o aprimoramento da vida humana, das relações, do contato com o ambiente. Sensibilizar crianças, jovens e adultos sobre a importância de seu papel cidadão no mundo, sua historicidade, sua dimensão espiritual e transcendente. Creio que estar como secretário, como um aspecto circunstancial de minha vida pessoal, apesar de ser uma honra, nada mais significa que continuar sendo a mesma pessoa de sempre. Pelo menos é o que tento.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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