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Eu Tenho Amigos

Perdoem-me os leitores por meus artigos serem tão centrados em vivências particulares. Imagino que apesar disso, eles acabam por promover reflexões comuns a todos. O tema da amizade já foi escolhido por mim e discutido várias vezes neste espaço. O que seria a amizade? Bem, a partir do que vivo me atrevo a dizer algumas coisas.

Tenho alguns amigos diletos. Creio que, em primeiro lugar, eles precisam ser pessoas em quem confiamos incondicionalmente. Não por concordarem conosco em tudo ou pela afinidade plena em variados momentos da vida. Sou dos que acreditam no valor da subjetividade. Cada um vê, sente e percebe a realidade ao seu modo. Mas há que existir cumplicidade em princípios mínimos.

Alguns preferem confundir amizade com favor, proteção, interesse. Nada mais triste. Comportamento que atenta contra a liberdade humana. Há os que confundem amizade com dependência, necessidade de compactuar sempre no plano das ideias e na ação. Há de existir autonomia e respeito. No melhor estilo, devemos nos orgulhar do sucesso dos nossos amigos, nunca invejá-los. Valorizar as capacidades deles e estimular seu crescimento, nunca diminuindo sua importância. E eles as nossas. Claro, também não devemos nos regozijar com suas derrapadas e escorregadelas, tão naturais para todos nós. Estender a mão deve ser ato contínuo.

No plano das ideias, é possível desenvolver amizades sinceras com divergências pontuais ou de fundo. Mas minha experiência indica muita dificuldade em cultivar uma relação mais profunda com contrários absolutos. Todo cuidado é pouco neste terreno minado.

Meus amigos surgiram das lutas por um mundo melhor. Eles se encontraram comigo na adolescência, quando eu atuava nas pastorais católicas. Depois vieram do mundo da arte, da música. Outros, pela atuação social no movimento de professores, na esfera política. Com a maioria deles tenho afinidades enormes. Sou fiel a todos. São os amigos que salvam a nossa vida. Como diz Frei Betto, há três elementos essenciais para uma boa saúde mental: amizades, autoestima e ausência de estresse. Conseguir os dois últimos elementos só mesmo com boas amizades.

Em momentos de alegria e de tristeza, prazer e dor, temos que estar presentes de alguma forma. Por esta razão, meu artigo de hoje vai para um desses queridos amigos, a quem tanto aprendi a admirar nos últimos anos, Jean Camoleze. Trata-se de uma pessoa iluminada, que ao lado de sua esposa, Denise, luta para garantir a doçura e a justiça no mundo, construindo continuamente um jardim cheio de flores. Parece-me divino, justamente quando tudo em volta estimula a violência, o desprezo e o desrespeito.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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