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Faça Algo de Bom

As pessoas se sentem ameaçadas. Fraquejam no coletivo sem se implicar no apoio àquilo que deve ser feito. Seu idealismo as arruína. O senso de realidade lhes falta. Construir é mais difícil do que ver defeitos e reclamar. Há, no entanto, aqueles que fazem seu trabalho sem reclamar. Calmos e em silêncio vão juntando esforços, inclusive sem recursos, para agregar pessoas, imaginar novos planos, novos trabalhos, novos entusiasmos. Estes não dependem dos outros nem de recursos nem de ninguém. Fazem o que lhes cabe.

Sintoma da doença social que nos atinge, vamos assim, reclamando de tudo, sem ao menos perceber o que conquistamos. Há sempre uma falta. Evidentemente não estamos nos referindo ao que é justo e necessário. Mas diante das adversidades e crises, de toda ordem, predomina a queixa. A vida é o sonho. Alguns de nós cultivamos sonhos plausíveis, outros mirabolantes.

Enquanto os que sonham sonhos plausíveis realizam no tempo certo, os que sonham planos mirabolantes se perdem sem realizar. Colocam empecilhos em tudo, especialmente os materiais. Não conseguem vislumbrar que há possibilidades criadoras em poucos planos materiais. Seus feitos precisam ser visíveis, grandiosos, para colher dividendos. Já os que se implicam em construções longas não se deixam levar pela falácia da realização impactante.
Vão parcimoniosamente construindo caminhos e, vez ou outra, tropeçam na empreitada, mas não se perdem na visão sobre o horizonte. Há momentos no curso da história em que dizer o que se fez e criticar quem não fez parece ser a moeda corrente da linguagem, para lá e para cá. Os tolos embarcam nesta canoa furada e vão, como medíocres falastrões, mergulhando no discurso vazio.

O que conta realmente é o que de bom se faz e que pereniza. O resto é tentativa de mostrar-se grandioso nas realizações, mesmo que elas não tenham ocorrido. É possível, no entanto, conciliar grandes realizações, que dependem de muitas mãos, com planos menores, que compõem o cotidiano como elementos de sustentação. Um é resultado do outro. Quando não se tem um, falta o outro. Alguns querem queimar etapas e pular o plano do cotidiano, da conquista gradual, do convencimento, do diálogo, da paciência. Não logram êxito, só frustrações.
Melhor é cultivar a paciência histórica, esperar o tempo certo para colher os frutos. Atacar os problemas mais importantes e cruciais e não superficialidades.

Reclamar é se perder em superficialidades, perder o ponto da crítica e da reflexão pessoal. Alguns não conseguem fazer a lição de casa, continuam repetindo os mesmos gestos e procedimentos: queixas, reclamações e desresponsabilizações. Triste condição.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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