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Nova Libertação

Assim como a saída do Egito materializou a mão da bondade livrando os hebreus do jugo da escravidão, a morte e a ressurreição de Cristo selaram a libertação integral dos homens e mulheres. Para muitos que fazem leituras tortas, o uso do termo “libertação” implica apenas uma luta contra a exploração econômica, a injustiça social. Se a libertação é integral, está para além disso.

Há muitas libertações ainda em campo aberto. Temores, angústias, sofrimentos que abatem a todos nós. A desesperança e a inquietação quanto ao futuro da humanidade estão postas, mesmo com todo avanço científico, tecnológico e econômico. Temos amarras relacionais, mesquinharias ideológicas, atuações rasteiras, desrespeitos generalizados, que, como pragas semeadas junto ao trigo, contaminam o solo da germinação da libertação. Sementes jogadas em solo fértil frutificam, mas há muitas desperdiçadas em terras esgotadas.

Não germinam porque a razão sensível ainda não está presente na organicidade da área em que foram lançadas. Maldades, maledicências, imbecilidades, mentiras, idiotices, alienações, reproduções do senso comum, interesses os mais variados, compõem a matéria desses solos batidos. Comportamentos mesquinhos, orgulho, vaidade, ignorância, vontade de aniquilamento do outro, julgamentos motivados por espíritos corroídos pelo desamor.

Se não há maior amor do que dar a vida pelo irmão, seu oposto é o desejo de que mais ódio se espalhe para denegrir a imagem desse irmão. Escravizadas nessa lógica e valendo-se do discurso religioso, muitas dessas terras inférteis apontam infertilidades nas terras ao lado, muito produtivas. Terras cuja produtividade causa espanto, rancor, temor, incômodos, devido ao acolhimento, o perdão, a disposição para a paz e a concórdia.

Faz-se premente uma revisão de práticas e conceitos, para que uma nova libertação, já em curso e originária na libertação proporcionada pelo Cristo morto e ressuscitado, siga seu curso. Naqueles que comungam de princípios semelhantes, há de ser superada a desconfiança. Entre os antagônicos, há de prevalecer mais respeito. Se Cristo morreu foi para que com sua morte essa remissão completa de nossas facetas perversas fosse superada.

Com sua ressurreição indica a saída para que o homem novo, liberto de todas as amarras da decadência, floresça na relva dos campos férteis em valores éticos. Mais comedimento e menos impulsividade, mais silêncio e reflexão e menos falastronismos. Menos impetuosidade em destacar as falhas alheias e mais compaixão e cuidado. Desta forma, a morte será vencida, em todas as suas manifestações. Vencerá a vida em abundância.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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