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O Amor e a Vida

Me divido entre textos afetivos e acadêmicos. Creio sempre haver uma razão para manifestar apreço por pessoas a quem desejamos o bem. Quando eu ainda estava na barriga da minha mãe, ela e meu pai foram visitar uma tia, irmã de minha avó paterna. Foi quando ela conheceu um menino de menos de dois anos, por quem ficou encantada. Foi tanto afeto que herdei dele o mesmo nome, que carrego com orgulho, porque do que sei a respeito de sua mãe, minha tia-avó, é que era uma pessoa muito amável e doce. Eu o vi apenas uma vez, mas foi o suficiente para perceber os mesmos traços em seu rosto. Traços que identifiquei também no rosto de sua mãe na única vez em que a vi, nas bodas de ouro de meus avós. Sorriso bondoso sem igual, curiosa para me conhecer.

Os amores aparecem em nossa vida e, por vezes, nós os perdemos. As razões podem ser várias. Particularmente, minhas perdas sempre foram administradas com ternura, tentando retirar o máximo de aprendizagem possível. Não há mágoas e tristezas que não possam ser superadas, muito menos as culpas. As culpas são naturais e humanas, mas há algo maior no amor que também as tornam menos pesadas com o passar do tempo.

Vale sempre a experiência boa do que fora vivido, mesmo que as dores sejam incalculáveis. Só nós mesmos, em nosso coração, podemos saber o que vai sendo processado. Não há juízos externos que possam dar conta de ajudar a suportar sofrimentos e angústias. Só resta aos que estão próximos manifestar amor e compaixão, solidariedade e mão estendida. Nem sempre elas aparecem, mas geralmente os que nos amam estão ao nosso lado. Como diz Leonardo Boff, “o difícil do sofrimento não é o sofrimento, mas não ter com quem dividi-lo”.

Está enganado quem pensa que o amor é feito sempre de satisfações. O grande erro dos rompimentos amorosos está justamente na crença nesta falácia. Os casais sempre terão suas demandas e é ingênuo pensar que não haverá tempestades. São as tempestades, dependendo de sua administração, que dão liga e sustentação para a perpetuação do amor. Não tenho elementos pessoais para julgar o que significa a perda de um amor pela finitude da vida. Mas sensibilizo-me quando vejo, como vi recentemente minha tia perder o marido, meu tio. Tendo vivido muitos anos sozinho, posso apenas tentar compreender o que é perder um companheiro ou uma companheira de anos, décadas.

Por me sensibilizar com essas situações, sempre procuro deixar um afago, uma palavra, um estímulo, como faço agora para a pessoa a quem dirijo este meu artigo. O que me move é o amor fraterno, o amor de sangue, um amor de primo.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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