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O Humor Nosso de Cada Dia

Tenho pensado bastante na capacidade que temos de controlar nosso humor. Creio que nas adversidades mais cruéis, de fato, seja praticamente impossível deixar de levar em conta a tristeza, sentimento natural em nossas vidas, embora se faça de tudo para esquecer de que ele existe. Mas na correria do dia, situações aparentemente amargas e difíceis podem ser encaradas com bom humor.

O humor traz confiança, especialmente quando uma de suas faces, a ironia, entra em cena para reafirmar nosso modo de ser, encarar a vida e pensar os problemas, diante das interpelações alheias, interpretações distorcidas dos fatos, análises sem propriedade, que emanam feito água na nascente das relações humanas.

Com a leveza proporcionada pelo bom humor as coisas ficam mais fáceis, passamos a perceber como somos seres corpóreos e utilizamos o corpo e a mente para que as defesas contra neuroses (as nossas e as dos outros) sejam alimentadas em nós. Tenho aprendido que uma boa prática esportiva, sobretudo a que exige contato corporal, ajuda e muito no trato com nossas próprias questões e com as questões dos outros.

As oscilações de humor são normais e naturais, de acordo com cada contexto, cada experiência. Mas a vida exige respostas diante dos fatos e se elas forem as mais naturais e seguras possível, com um toquezinho dessa leveza, melhor nos sairemos.

A seriedade e a capacidade de sair do mecanismo centrifugador dos apelos narcísicos, não implicam abrir mão do bem estar patrocinado pelo bom humor. Gente séria age com naturalidade diante das contradições e das formas diferentes de entender o mundo, sem que isso se torne um cavalo de batalha, uma tormenta interminável diante do diferente.

Já os tensos e sectários – para lá e para cá – sempre estarão numa batalha interminável contra inimigos invisíveis – feito Dom Quixote -, seus resultados neuróticos, não ensejando a possibilidade da convergência possível, nem da incapacidade de comunicação com outros opostos. Sim, há opostos com quem nem vale a pena argumentar, daí a função do humor como veia cômica ou irônica.

Os filósofos sabem muito bem do que estou falando. São craques no enfrentamento das idiotices e neuroses. Sócrates foi o grande exemplo na história da filosofia. Não porque desprezasse seus interlocutores, mas, pelo bem da verdade, objeto sempre aberto para análise, fazia da argumentação constante, com muita dose de humor, sua força principal. a arma com a qual “derrotava” seus inimigos. E quem são nossos inimigos? Talvez eles estejam instalados dentro de nós mesmos.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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