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O Idiota Político

Revisitando um gostoso texto em forma de diálogo, produzido por dois grandes filósofos brasileiros, Renato Janine Ribeiro e Mário Sérgio Cortella, ali encontrei algo interessante. Muita gente continua insistindo em dizer que “política é coisa de idiota”. Cortella esclarece que houve uma inversão no conceito, que em grego, idiótes, significa aquele que só vive a vida privada, recusando a política enquanto ação social conjunta. São aquelas pessoas que, insatisfeitas com os rumos da política partidária e institucional a confundem com o conceito mais amplo de política e acabam se desencantando, reproduzindo o velho jargão “não me meto em política”. O velho Aristóteles já dizia que a ética e a política possuem o mesmo objetivo, que é o bem do ser humano. Como pode, então, a busca pelo bem do ser humano se constituir como seu prejuízo?

Reduzindo a política à atuação dos partidos e agentes políticos, a maioria das pessoas não a percebe como toda ação que nós humanos – seres políticos por natureza – empreendemos para atingir um objetivo, seja individual ou coletivo. Com a ideologização e a colonização da vida social, a individualização dos processos de existência levou cada vez mais a apartar os sujeitos do coletivo. Invadida pelos interesses os mais variados, a política enquanto mobilização e luta social, mesmo que aparentemente seja organizada em função de fins coletivos, pode abarcar desejos corporativos, individualistas, nada abrangentes. Há casos em que “em nome do bem do país”, grupos específicos lutam por interesses que são só seus. Desta feita, reforçam a percepção filosófica de que tenham sido contaminados pela idiotice.

Quando não há organização, objetividade, respeito às normas de convivência democrática e efetiva prevalência dos interesses públicos, a idiotice campeia. Há hoje correntes dentro dos próprios partidos políticos atingidos por crises de identidade, movimentos de parlamentares e militantes que propugnam uma moralização da política institucional, que proporcione uma limpeza ética nos trâmites das operações que se dão nos bastidores. Quanto mais transparente, clara e honesta a vida política, menos idiotas teremos.

Apesar de não vislumbrar com otimismo alguma mudança no modo como em geral os cidadãos percebem a atuação política, já que a maioria desconhece o que de fato está por trás das ações de grupos poderosos, creio que o debate sobre o retorno a um estado de vida política mais honesto e democrático tem sido frutífero. Quanto mais fundamentado for este debate, menos idiotas haverá enfiando a cabeça no buraco e perdendo a noção do que é interesse público.

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Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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