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O Mundo é para os Fortes

Como preconiza o dizer evangélico, “sede quentes ou frios (…)”. Não há meio termo na vida. Embora tenhamos direito à prudência na escolha dos caminhos, devemos sempre assumir posições. Acovardar-se nem sempre é não dizer o que se pensa. Demonstrar com ações o que se pensa é mais produtivo, como lembra outra passagem evangélica.

Ter consciência da realidade é uma coisa. E nem todos conseguem atingir esse patamar, por várias razões. Outra coisa é estar entre aqueles que possuem um mínimo lampejo do significado dos eventos à sua volta. Cabe desistir da posição de eterna lamúria. São pessoas infelizes, constantemente atormentadas por aquilo que supõe não possuir, o que lhes falta. Desprezam o fato mesmo do dom da vida e do potencial que está em suas mãos. Amesquinham-se no seu comodismo e culpam outras pessoas por sua infelicidade. Não conseguem ter a vida nas próprias mãos.

Ser forte não é não titubear. Todos estamos sujeitos às intempéries. Enfrentá-las com galhardia é uma outra questão. Devido ao peso de seus desejos insatisfeitos, muitos trocam o que possuem de bom por outras situações, que julgam melhores. Estão sempre em busca de algo ideal, mas sem relação com a realidade. E sofrem, sofrem muito. A força está na compreensão dos processos, no que há por fazer dentro das condições que temos. A queixa é uma doença cotidiana, que mina de vez as boas relações, porque não é compreendida como derivativo da possibilidade. Ela se funda sempre na eterna impossibilidade. Evidentemente há situações que são da ordem da impossibilidade. Mas há que se criar novos sonhos, alentar-se com o estímulo a desejos possíveis e realizáveis.

Por força dos invasivos percursos culturais, que preconizam o bem-estar a qualquer custo, a satisfação constante e a incapacidade de lidar com os limites da vida, o sofrimento parece coletivizar-se. Uma triste condição sociopsíquica. A felicidade aparece como uma condição sine qua non, imposta pela cultura, a partir de objetos de desejos os mais variáveis. Inclusive as pessoas acabam se tornando esses objetos.

Se não houver a disposição para enfrentar essa alienação provinda sobretudo da indústria cultural, sucumbiremos todos como fracotes despreparados para uma vida de escolhas racionais (e emocionais) razoáveis. Entre o suposto ideal e a concretude, escolheremos como fortes, a concretude, sem perder de vista os sonhos possíveis. Nada de lamúrias eternas. Arregaçar as mangas para construir o bem-estar possível, individual e coletivamente.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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