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O Sentido da Vida

Há muitas razões para o descrédito em relação ao que fazer com a própria vida. Crise política, desdobramentos econômicos, inseguranças e incertezas no cenário social. Injustiças, incompreensões, crise de racionalidade e de inteligência emocional. Sem contar as dificuldades naturais do processo biológico, como cansaço, doenças físicas e psicológicas. Estamos em pânico, ansiosos, medrosos, acuados, sem forças internas para reagir com naturalidade ao que faz parte da história individual e coletiva.

No entanto, um pouco de serenidade pode ser extraída desse contexto, na medida em que nos deixemos guiar por uma associação entre reflexão ponderada e sensibilidade ética. Ajudar a desconstruir os desencontros, os ódios, os processos de enfrentamento desnecessários entre pessoas. Trabalhar para construir criticamente, mas sem apegos de ordem pessoal, ideológicos, políticos, práticos. Neutralidade e independência crítica sem abrir mão de princípios mínimos de convivência que levem à solidariedade entre as pessoas.

Falta-nos sentido de coletividade porque fomos invadidos, em todos os campos da vida, pela ideia da competição e da disputa. Achamos culpados para tudo, nos implicamos insuficientemente. Mais fácil condenar, afetar, aparecer como quem sabe o que fala, do que dialogar com respeito e sinceridade. Estamos ávidos por uma calmaria que parece nunca vir. Temos de ser satisfeitos, mas estamos sujeitos aos apelos externos.

 Não conseguimos equilibrar nossa individualidade e nossa consciência sobre o que somos em bases de confiança com as demandas do mundo externo, tão excessivamente pesadas, grandes fardos a carregar vida afora. Neste bojo estão até mesmo os mais próximos, que não parecem tão próximos assim. As alternativas são várias, mas nossa teimosia em acentuar o que nos perturba e o que não faz bem ao coletivo – muitas vezes com olhares turvados pelos apelos do senso comum -, parece uma constante.

Difícil ver sentido em situações de crise existencial, social, política, todas elas entrelaçadas. O medo e a desesperança não são necessariamente impedimentos para seus opostos, a coragem e a esperança. São até mesmo parte integrante deste imenso mar de energias que nos move, dia após dia, para encontrar algo que justifique viver. Politicamente – não apenas institucionalmente – penso que esse algo possa ser a luta pelo bem estar pessoal e coletivo. Em primeiro lugar esmerar-se em cuidar-se com o esforço do mundo inteligível e emocional. Em função disso, mesmo com todas as contrariedades, adornar a vida com o sentido de bem comum, tão em baixa nesse mar de falta de desejos que nos atinge a todos. Ou talvez, nesse mar de insensibilidades e egoísmos.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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