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Paulo Freire Contemporâneo

Muita gente ainda insiste em dizer que em educação a tal da “qualidade” deve se pautar por princípios como “eficiência”, mecanismos de avaliação que apontem resultados “numéricos”, currículos movidos lógica da “sequência didática” (eufemismo para substituir o conceito de linearidade) e tantas outras barbaridades conceituais ultrapassadas.

Poucos questionam os fundamentos teóricos de tais postulados. As receitas neoliberais, que direcionaram o rumo das políticas públicas educacionais a partir dos anos 90, beberam da fonte de uma tal “Teoria do Capital Humano”, que de humano só possuía o nome. Sua perspectiva é essencialmente a defesa de padrões “técnicos” de eficiência e, quando aplicada (tanto nos anos 90 quanto nos anos 70), resultou no esquecimento da educação infantil e do ensino superior, para dar suporte a uma política de “valorização” da mão de obra barata, por meio do ensino fundamental. Daí a importação de teóricos como Cesar Coll, Philippe Perrenoud, Edgar Morin, como paladinos dessa “modernização”.

No Brasil, já nos anos 50, um nordestino que sempre prezou pela rigorosidade metódica e cientifica, mas em outras bases, criou um método de alfabetização que em muitos países levou sujeitos despojados do direito social à leitura e à escrita, a ascender no mundo das letras. Qual sua preocupação? Vincular a realidade cultural e social de quem aprende ao universo do conhecimento.
Até hoje as asneiras jornalísticas sobre seu trabalho proliferam às pencas, mas os resultados práticos de suas ideias, tanto do ponto de vista dos estudos acadêmicos, quanto da materialização da superação de desigualdades escolares são incontestáveis.

O que realmente deve ser levado em conta é que sua perspectiva teórica está sustentada na esperança como elemento ontológico. Sim, a esperança como característica presente em cada um de nós é que deve mover-nos em direção a inéditos viáveis.

Não são necessárias receitas mirabolantes – aliás, educação não vive e nunca viveu de receitas – que darão conta de promover a qualidade social da educação. Todo educador deve fugir do lugar comum ou da tentação em reproduzir bobagens pedagógicas ou até mesmo patrocinar vergonhas discursivas, como o desprezo a aqueles alunos e alunas que por algum motivo foram alijados dos direitos à educação. Impropérios verbais fazem parte da pobreza de espírito pedagógica e espanta-nos que eles venham da boca de quem menos esperamos.

O sentimento amoroso e a consideração aos nossos educandos, só podia mesmo ser a marca de um grande educador, como Paulo Freire, que completaria mais um ano de vida neste último sábado.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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