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Retorno Garantido

Boa convivência – incluindo a capacidade para a conversa democrática -, seriedade docente e ambiente favorável. Três ingredientes fundamentais para traduzir na vida prática, satisfações que sugerem a garantia de felicidade na vida de um professor. As comprovações aparecem com o tempo. Nesta segunda feira tive mais uma dessas experiências, um sentimento de que vale a pena atuar em educação.

Numa reunião de delegados que discutiam modificações no texto do novo plano diretor, encontrei uma pessoa. Ao iniciar a reunião, ouvi sua voz – eu estava à sua frente – várias vezes, interpelando, perguntando, sugerindo reflexões sobre aspectos específicos do texto. Gustavo Diniz, um ex-aluno querido, de quem fui professor no Ensino Médio, hoje um excelente professor formado pela USP. Fiquei com vontade de comentar o fato dele ter sido um de meus alunos, com um amigo que estava ao meu lado. Mas me contive. Chegando em casa, pensei comigo mesmo: por que não? E resolvi escrever estas linhas para deixar registrado como me sinto feliz por estas situações.

Já repeti diversas vezes que não é orgulho ou sentimento parecido. Trata-se de alegria mesmo, já que estes alunos não são resultado do meu trabalho, mas parte integrante da minha vida como educador e que eles fizeram toda a diferença no meu dia a dia. Ao contrário de me sentir um preceptor, vejo-me mais como alguém que, por sorte, teve essas oportunidades de convivência com gente decente, comprometida, séria, afetivamente disposta.

Não há nada que se compare a estas vivências. Apesar de ter sido a vida inteira um árduo defensor dos direitos dos professores, que devem mesmo ser sempre colocados em pauta, nunca me orientei apenas pela luta profissional. Aliás, creio que a luta por direitos trabalhistas tem que ser concomitante à seriedade e ao empenho profissional. Falhas todos nós sempre cometeremos. Mas o esmero na busca pelo aperfeiçoamento teórico e técnico são imprescindíveis e, inevitavelmente, uma decisão pessoal. Mesmo com todas as dificuldades que os educadores enfrentam na busca por aprimoramento profissional, devido às condições de trabalho, sempre haverá brechas que permitem o desejo de avançar na própria formação.

Aqueles que se dedicam à gestão escolar, pública ou privada, nunca devem tirar os olhos do cotidiano pedagógico. Nele encontramos essas razões e sentimentos motivadores, que nos impulsionam a querer mais e mais. Mais leitura, mais oportunidades de reflexão, mais felicidade. O retorno é garantido. Meu ex-aluno não me deixa mentir.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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