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Um Grande Apreço

Há momentos em que se desvencilhar daquele discurso carregado faz bem. Melhor falar das coisas aparentemente triviais, mas que contam tanto quanto o esforço em pensar e refletir. Particularmente sinto-me abençoado pelo fato de estar rodeado de educadores e educadoras que me fazem bem. Perto deles sinto-me mais gente, posso rir e chorar e até contar minhas habituais piadinhas sem graça.

Depois de mais de vinte anos trabalhando em um mesmo espaço, com um tempinho de descanso aqui e ali, a gente se apega às pessoas. Tanto as que estão, como as que ficaram no passado, deixam marcas inesquecíveis na vida da gente.

Bons professores são maioria. Há aqueles que preferem caminhos sem volta. Da minha parte prefiro pensar no afeto, porque me sinto afetado pelo trabalho educativo, no bom sentido da palavra. E os amores docentes se entrelaçam, com os amigos e amigas com quem convivo diariamente. Incrível sentir falta deles e delas no período das férias escolares. Da Cida, da Rutz, do Jaqueson, do Junior, da Elaine, do Luiz, do Paulo, da Cristina, do Wanderlei, da Ana, da sarrista da Lígia, e de várias outras pessoas queridas que me fazem sentir mais ou menos importante. Não uma importância inata, mas resultado do afeto mútuo que cultivamos entre nós.

Que passe logo esse tempo de descanso, necessário, para que venham novos porvires e sonhos que sonhamos juntos, com nossos pupilos e pupilas, embalados nos sonhos que foram sonhados pelos nossos mestres e mestras no passado.

Essas aparentes efemeridades compensam qualquer dissabor, porque a identificação em ideias e práticas diz mais que a tristeza de ver professores e professoras perdidos em meio a tantos desamores. As lamúrias habituais, as desconexões, os afetamentos no mau sentido, os irracionalismos da vida docente, se não forem administrados por nós enquanto comportamentos desviantes, em meio ao mar de afeto e amor, ficaremos todos doentes. Desconfianças mútuas, medos, inseguranças, falta de sensibilidade e de paz interior, afloram no turbilhão de emoções do dia a dia do viver educacional, sem que nos demos conta de que há preocupações outras, melhores, de benquerença.

Os amigos e amigas estão aí para nos salvar de todo esse mundo de desavenças e nos ajudam a acalentar o sonho da profissão. Essa da qual todos dependem e que não é tão desvalorizada assim, como dizem. Se não julgarmos apenas pelo prisma dos esquecimentos governamentais, veremos o quanto de valor existe, na prática, no trabalho dos professores e professoras. Os alunos e alunas reconhecem e a gente se reconhece mutuamente.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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