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O Que É O Amor?

Dentre as perguntas mais complexas, para as quais buscamos respostas, está a que dá título a este texto. Circunscrito numa das demandas mais profundas da humanidade, a felicidade, o amor nem sempre é objeto de discussão. Aderimos sem pensar aos significados que a ele são atribuídos.

A filósofa Márcia Tiburi, em uma de suas aparições no programa “Sempre um papo”, analisando o tema, menciona o fato de estarmos sujeitos a uma “felicidade propagandística”, que nos indica necessidades que supostamente trarão satisfação e bem estar. Caímos no canto da sereia, que sugere que a felicidade está aqui ou ali, nas prateleiras das lojas espalhadas pelos shoppings, ou numa situação de vida qualquer, como ter alguém ao nosso lado para “nos fazer feliz”.

No vale tudo do mercado, existem nichos de produção, sedução e vendas. Para cada situação “especial”, haverá sempre um negócio a desenvolver. Agradar alguém com um regalo não é uma ideia tão ruim. O problema é ter dia e a hora marcada.

E aqui reside um sentido provável para o amor: construção diária, cotidiana, de uma relação entre pessoas, inclusive as relações entre namorados. Seres angelicais não amam cotidianamente, porque deles se excluem as fraquezas que precisam ser suportadas pelo outro. Seres totalmente mundanos, apegados a satisfações narcísicas, também não conseguem despojar-se um mínimo de si mesmos em direção aos outros.

Os “rapazes sarados, inteligentes, cheios da grana” e as “moças estonteantes, delicadas e femininas”, são estereótipos que circulam no imaginário sobre o amor, reprodutores do chamado amor romântico, que não correspondem à persistência necessária para se construir uma relação a dois. É fato que ninguém gosta de viver com um outro absolutamente incompatível em relação a valores e ideias. Mas, nem tudo é beleza ou exterioridade. Ninguém deveria ver o outro como condição de sua felicidade, mas como alguém capaz de ajudar a proporcionar uma vida em alegria, como diria Nietzsche.

O amor cala o coração. Não precisa ser dito com insistência. Há possibilidades no convívio a dois que estão relacionadas a projetos comuns. As singularidades e subjetividades devem e sempre irão permanecer. Para além dos corpos malhados e dos embelezamentos artificiais, estarão sempre os sonhos comuns – pequenos ou não-, o vislumbramento de algo que saia do campo da circunferência em que se metem muitos enamorados. Abrir-se para o mundo, para causas que vão além dos limites da vida a dois, individualmente quando a singularidade ensejar e juntos quando possível. Neste aspecto, é bom saber que estamos bem acompanhados.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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